terça-feira, 22 de novembro de 2011

Falando de VFX- Com Cassio Homa

  

   Cassio Homa- Freelancer VFX TD





1° - Cassio, primeiro um muito obrigado pro estar nos presenteando com essa entrevista, isso significa muito. Então, pra quem quer começar nesse vasto mundo que é o CG e o VFX em geral, o que se deve saber, quais os caminhos que se devem tomar para que o estudante/entusiasta chegue a ser não só reconhecido, mas um bom profissional?


R- Eu é que agradeço! Quando comecei na CG, ouvi um conselho da pessoa que me deu a minha primeira oportunidade na área, que era um dos sócios da VetorZero, Sergio Salles, e ele me disse :
“Para estar nesta área é preciso ter atitude e talento.”
 E acredito que talento é determinado pela quantidade de horas dedicado a algo, certa pesquisa do MIT, apontou que na média são necessárias 10.000 horas de dedicação focada em algo, e atitude é tomar posições na vida, e para isto é necessário ter um conjunto de crenças e valores antes de tudo, que nos permitem tomar estas posições.
Deste ponto a ser um profissional, a ter vontade de crescer, de estar sempre atrás do seu melhor, ter vontade de aprendizado, acho que é uma consequência.


2° - Então Cassio, pra você, existe uma distância certa entra software e profissional? Quer dizer, você acha que estamos todos cada vez mais dependentes de novos softwares pré-programados e que tiram(para alguns) certo charme das produções em geral? Trocando em miúdos: Os Softwares exercem alguma influencia sobre a criatividade dos profissionais, ou eles só a aumentam?


R- Tenho a visão que software é igual ao pincel, é ferramenta.
Obviamente, existe a questão do vício, algumas pessoas se tornam escravas da ferramenta, e acredito que isto só acontece por falta de estofo, de base teórica suficiente para transitar de uma ferramenta para outra, no Brasil somos como artesões, e não designers nesta área, o que isto quer dizer?
Muito! Temos capacidade artística para a realização de algo, mas não somos capazes de industrializar ainda, este é o ponto.
As pessoas assumem que o fácil é por natureza aquilo que aprendem, mas para um chinês,  certamente falar mandarim é muito mais fácil que português.
Assume-se que por exemplo que o 3Dmax é mais fácil, mas na verdade ele só é o mais difundido entre nós porque rodava em computadores baratos, e para não ser hipócrita, pela facilidade que a Autodesk sempre foi menos agressiva na antipirataria.
Ou seja, o difícil não era o Maya, ou o Power Animator, o difícil mesmo era comprar uma Silicon Graphics.
Tanto que hoje, o Maya é o padrão profissional aqui no Brasil, o que em minha visão não é sinônimo de que é o melhor, pois cada um tem seu foco,  o grande foco do Maya, sempre foi e será, animação em larga escala, porque possui métodos de integração/programação superior a maioria, mas nunca foi o mercado publicitário por exemplo, mesmo que muitos usem, tanto aqui como fora do Brasil.
Mas esta é uma visão bem particular minha, pois acredito que softwares tais como Softimage, 3Dmax, Cinema 4D, e até mesmo Houdini (que é o que uso),  que não requer “programação”, e ou R&D (pesquisa e desenvolvimento), para produções um pouco maus complexas, são mais aptos para a tarefa.
Pois é comum em produções usando Maya, um time de programadores para realizar estas pesquisas, fazer adaptações no software para tornar possível a realização de determinada tarefa.
Mas de novo esta é minha opinião e penso que o mercado aqui pensa bem diferente, o que é bom, afinal o velho chavão serve, “o que seria do azul se ...“


3° - Vendo um de seus vídeos do Vimeo(Demo Reel 2011), pude reconhecer as cenas de uma animação bem Brasileira(Kauan). E em termos de Brasil, o que você prevê, ou consegue mensurar para o cenário de animações 3D do Brasil? Abrangendo mais ainda, você imagina o Brasil sendo realmente reconhecido, como um celeiro de novos profissionais que seguem nesse rumo? 


R- No quesito Artísitico, e as pessoas precisam diferenciar que para produzir CG/VFX é necessário além do artístico a questão técnico, acho que estamos bem, bons escultores digitais, animadores, alguns sendo referencia no mundo, etc.
No quesito técnico, ai estamos anos luz de sermos capazes de competir ou até mesmo produzir em larga escala.
Faltam escolas/faculdades, falta visão empresarial para aplicar recursos corretamente, e principalmente, falta interesse dos profissionais envolvidos.
Para se ter uma ideia clara, o Renderman uma especificação de descrição de cena para render feita pela Pixar , a única ferramenta presente em 99% das produções de animação, e ou concorrentes ao oscar de VFX, quase não tem usuários no Brasil, e muito pouco interesse por ser algo extremamente técnico e precisar de conceitos básicos de computação gráfica, traduzindo em miúdos, base acadêmica.
Ou seja, acredito que o Brasil irá ficar durante algum tempo ainda com foco em publicidade que pelo tempo de produção é possível realizar sem grandes planejamentos e ou recursos, e que o próximo foco será séries de TV de baixa dificuldade técnica, e uma demanda de planejamento, mas com grande apelo artístico, como uma coisa leva a outra, quem sabe no futuro este planejamento nos leve a ter escolas, uma quantidade de pessoas com uma visão mais clara das necessidades técnicas etc.


4° - Até agora, qual o maior desafio, em termos de VFX, no qual você já esteve envolvido?


R- Essa é fácil! O próximo sempre!
Vou querer sempre fazer algo melhor, logo, mesmo que já tenha feito algo, irei buscar algo mais, acho que isto está no DNA de quem trabalha com CG.


5° - Como você se envolveu com o VFX? Digo, como você soube que aquilo era o que você queria de verdade, quando soube que poderia e seria bom nisso?


R- Primeiro, ser bom é relativo, se eu me comparar com quem está começando posso dizer, é eu sou bom, mas se comparar com o Ed Catmull, vou pensar, bom acho que vou ter que nascer de novo!
Ponho meus horizontes de forma sistêmica, pois o horizonte é uma utopia, e a utopia serve para isto, para caminhar, você pode não alcançar, mas certamente irá caminhar ao tentar alcança-lo, e espero um dia olhar para trás e ver que o ponto para qual olhei a primeira vez a muito ficou para trás.
Dito isto, acho que apesar de quando criança ter visto Star Wars e passado dias sonhando em fazer algo como aquilo, meus caminhos foram me levando por onde eu consegui caminhar, fui de ilustrador a designer, e depois de ter uma carreira até estável como diretor de arte, sentia falta de algo para seguir, faltava o horizonte, dei uma parada para reciclar, fui convidado a dar aula, e de repente quando percebi estava na CG.
Resumindo, meu horizonte ainda está distante, estou muito longe de participar de algo como Star Wars, mas continuo caminhando.


6° - Por fim: O que te mantém nesse caminho? O que te motiva a nunca desistir e não perder o foco no seu trabalho? Todos sabemos que existem dificuldades, e é muito provável que você não seja exceção a essa regra, mas, o que realmente faz você fazer trabalhos tão realistas e de criatividade tão alta?


R- Acho que isto já está meio respondido, pela resposta anterior, mas, o que não faz uma pessoa não desistir de caminhar é a algo inexplicável, é o imponderável, alguns dirão que é fé, outros que é teimosia, mas o fato é que gostamos do que fazemos, vamos nos empolgando, começamos a acreditar que podemos voar, depois vemos que podemos voar mais rápido que o som, etc..
A natureza humana é assim, queremos mais, sempre, sou sempre muito envolvido no que faço, adoro fazer, me divirto fazendo, me completo realizando algo, e não tenho, esta avaliação de bom, ruim, o que tenho é se atendeu as expectativas de quem contratou, se foi justo, se me diverti, se aprendi, se agreguei algum valor,  pode parecer que estou tangenciando, mas acho que é o que sou, qualquer um que tenha trabalhado comigo irá perceber a verdade nestas palavras.


Para finalizar, gostaria de agradecer a oportunidade e dizer que tive sorte, sorte em ter trabalhado com muita gente especial, incluindo gente que foi pioneira na CG aqui no Brasil como Alceu Baptistão , Geninho Galvão, e tantos outros que se não são tão conhecidos, me fizeram seguir adiante, ter referência  profissional de conduta, é algo que não tem preço, sou grato por isto, por isto agradeço a todos com quem tive a honra de trabalhar, trocar ideias e realizar esta caminhada, que se está longe de acabar é porque muito já foi percorrido.
Obrigado!




Galera da Retro Digital vfx agradece muitíssimo a sua grande colaboração, muito obrigado. 


Segue o link do Demo Reel do grande Cassio Homa.
http://vimeo.com/homa

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